Até onde vai sua busca por curtidas?
- Bia Bryan
- 16 de out.
- 3 min de leitura

Uma conversa sobre a era da cópia, das IAs e da falta de alma nas redes
Há alguns anos, li um artigo sobre “Até onde vai sua busca só por curtidas?”, o cenário já mostrava os primeiros sinais de um comportamento que hoje se tornou quase epidêmico: a produção em série de conteúdos genéricos, repetidos e, cada vez mais, desprovidos de alma.
O que antes era apenas o medo de perder o timing agora ganhou uma nova camada, a de perder o protagonismo para a inteligência artificial.
Quando o algoritmo dita o que é autêntico
A verdade é que a pressão por visibilidade nunca foi tão intensa. Os feeds estão lotados de textos impecáveis, vozes idênticas, promessas de “autoridade” e frases prontas geradas por prompts.
Mas, ironicamente, quanto mais produzimos, menos únicos nos tornamos.
O excesso de conteúdo não é sinônimo de expressão. É o ruído travestido de relevância.
A IA, claro, tem seu mérito, ela otimiza, traduz, sugere, organiza. Mas ela não sente. Ela não carrega memória, nuance, pausa. E é justamente nesse intervalo entre o dizer e o sentir que mora a originalidade.
O novo “efeito manada” digital
Se antes copiávamos o post que viralizou, agora reproduzimos até o estilo de escrita que a IA aprende a replicar. O feed virou um grande espelho infinito, e as pessoas parecem se alimentar de versões de versões.
O problema não é usar IA. O problema é terceirizar a alma do que você cria.
De repente, todo mundo fala sobre o mesmo tema, com o mesmo tom, na mesma semana. O perigo é sutil: quanto mais as vozes se igualam, mais difícil se torna identificar quem está realmente pensando e quem apenas está repetindo.
Entre o prompt e a presença
A IA pode ajudar a escrever, mas não pode substituir o ponto de vista. E é isso que tem faltado nas redes: presença. Aquele olhar próprio sobre o que acontece, a interpretação que nasce da experiência, não do banco de dados.
A ferramenta pode ser a mesma, mas o olhar nunca deveria ser.
A busca por curtidas e reconhecimento, somada à facilidade da automação, tem criado uma cultura de conteúdos sem contexto. E o contexto é o que separa a mensagem do ruído.
Originalidade na era da inteligência artificial
Originalidade não é inventar do zero, é ter coragem de sustentar o que é seu. É olhar para o que já existe e enxergar sob outra luz. É não deixar que a ferramenta dite a tua voz, mas que a tua voz conduza o uso da ferramenta.
O novo poder digital é ser autêntico em meio à multiplicação infinita de cópias.
Inspirar-se é natural, mas copiar é preguiça. E, nesse novo tempo, quem se limita a repetir o que deu certo para os outros está apenas atrasando o próprio processo de descoberta.
IA não é o vilão. O vazio é.
A inteligência artificial é neutra. Ela só amplifica o que já existe, inclusive a superficialidade. Se o input é raso, o output será igualmente vazio. Por isso, o problema não está na ferramenta, mas em quem a usa sem propósito.
A IA é um espelho: mostra a grandeza de quem pensa e o vazio de quem só reproduz.
O futuro da comunicação não será definido por quem domina os prompts, mas por quem domina o pensamento crítico.
De volta à essência
Talvez este seja o momento de reaprender a criar, com pausas, com reflexão, com presença. De lembrar que por trás de cada conteúdo há uma responsabilidade: inspirar, informar, tocar.
A autenticidade não nasce do esforço de ser diferente, mas da honestidade de ser quem se é. E isso, nenhuma máquina pode copiar.
Quem busca curtidas perde profundidade. Quem busca sentido encontra relevância.
As IAs podem nos ajudar a produzir mais, mas cabe a nós decidir o que vale ser dito. No meio do barulho, a verdadeira voz será sempre aquela que escolhe pensar por conta própria.
Porque, no fim, a originalidade continua sendo o maior ato de coragem digital que existe.



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